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Concepção Sindical e a urgência dos sindicatos se adaptarem aos novos tempos

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Temas foram abordados no Curso de Formação, no último sábado (11), e contou com a presença de dirigentes do Sindijus e trabalhadores de outras categorias

Molina
Após quase dois anos de isolamento social, em virtude da pandemia de Covid-19, o professor doutor em Políticas Públicas e Formação Humana, Helder Molina, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, ministrou curso de concepção sindical em Sergipe. A atividade com o pesquisador, que tem experiência em formar dirigentes sindicais, foi organizado pela coordenadora de Formação Sindical do Sindijus Mila Pugliesi Cardozo.

“Foram dois anos, praticamente, sem atividades presenciais, a não ser as lutas, mobilizações e as campanhas que devem ser feitas com muito cuidado nas ruas. É a primeira vez que eu participo de um espaço de reflexão coletiva, de discussão da situação política, do cenário econômico e das perspectivas que se colocam para o movimento sindical. Nós passamos por um período muito difícil. E eu agradeço enormemente o convite do Sindijus, que é um sindicato muito querido”, declarou o professor.

Durante a análise de conjuntura, que tomou a parte da manhã do evento, Molina fez uma rápida descrição da situação social, econômica e política do Brasil e do mundo. Ele também apresentou o jogo de correlação de forças entre as classes sociais, bem como a situação política principalmente em função do desdobramento da pandemia do novo coronavírus. De acordo com ele, a Covid-19 aprofundou a miséria, a exclusão social e a desigualdade entre ricos e pobres.

“Prova disso é saber que 87% das vacinas produzidas no mundo foram consumidas – ou estão estocadas – por apenas 13 países. Por exemplo, a África tem, hoje, menos de 7% da sua população vacinada. Grande parte da população mundial ficou somente com a sobra de 3 a 4% do que foi disponibilizado. Mesmo com as intervenções da Organização Mundial da Saúde, enfim, das vigilâncias de saúde do mundo inteiro, exigindo mais distribuição. Mas a situação não mudou muito. Isso demonstra que o capitalismo é o capitalismo nesses momentos: aumenta desigualdades, exclusão, monopólios. E este é só um exemplo”, descreveu.

Outro aspecto apresentado foi a questão do aprofundamento das desigualdades e como isso acaba se constituindo um vetor estruturante central da sociedade. De acordo com o professor da Uerj, esses dados, hoje, são amplamente conhecidos. No plano mundial, oito famílias têm mais patrimônio acumulado do que a metade mais pobre da população mundial (3,7 bilhões de pessoas), e 1% delas tem mais do que os restantes 99%.

molina2“A estatística equivalente para o Brasil é que seis famílias detêm mais patrimônio do que a metade mais pobre, e os 5% mais ricos detêm mais do que os 95% restantes, isto é 105 milhões de pessoas. Tal concentração é inviável em termos políticos, econômicos e éticos”, apontou Molina, relembrando a diferença entre desenvolvimento econômico versus desenvolvimento social. “O primeiro é o PIB, a somada da riqueza. O segundo é o IDH, o que seria a distribuição dessa riqueza. Há alguns anos éramos os 6º PIB e o 62º IDH, o que já ilustrava muito bem o abismo”, explicou.


A luta continua

No período da tarde, o palestrante falou sobre o que é sindicato, sua utilidade, quais as atuais tarefas e desafios da conjuntura para as entidades. Descreveu, também, o que é o trabalho sindical em tempo remoto, em tempo de atividade digital, em tempo de desemprego, de informalidade, de desalento, em um cenário de desafio da organização coletiva dos trabalhadores. Na visão do professor, reaprender é a palavra de ordem.

“Do mesmo jeito que tivemos que aprender a usar a máscara, estamos aprendendo a fazer o trabalho digital, o trabalho remoto e o virtual. E também devemos discutir um pouco sobre o que fazer. Como se organiza um local de trabalho, como a diretoria potencializa a sua capacidade, a sua força, as suas possibilidades e compreender como a gente se encontra nessa confusão que virou a vida, após a pandemia. O fato é que os desafios para os sindicatos também se aprofundaram e ficaram mais difíceis. Teremos que buscar alternativas, no intuito de planejar e pensar um pouco os cenários, rumos, e perspectivas para as lutas em 2022”, disse.

molina3.jpegPara a coordenadora de Formação do Sindijus, o dia foi bastante produtivo. “O professor Helder Molina nos surpreendeu com essa aula de concepção sindical, na qual ele não só realizou um resgate histórico da organização sindical e luta de classes, chegando até os dias atuais, como também apontou os desafios dos nossos movimentos sindicais para garantir melhores condições de vida e de trabalho à sociedade, fazendo com que cada participante conseguisse identificar os principais instrumentos de luta que possam auxiliar nesse objetivo”, avaliou Mila Pugliesi.

O curso foi aberto aos servidores sindicalizados e aos sindicatos filiados a Central Única dos Trabalhadores (CUT). O professor José Carlos Santos, que atua nas redes estadual e municipal, de Campo do Brito, demonstrou aprovação. “Esse é um momento importante e a gente sempre está colhendo novas informações, porque no mundo em que vivemos, de desmandos, de retirada e negação de direitos, é importante entender sobre como resistir. Eu parabenizo o Sindijus pela realização da atividade, pois é importante esse debate para fortalecer a luta, que será ainda mais árdua e longa”, elogiou.