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Quando as máquinas paravam, por Roberto Gervitz

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trabalhadores

As “greves espontâneas” (deflagradas pelas comissões de fábrica, sem piquetes e sem o comando da direção sindical) deixavam de ser clandestinas e formavam uma bola de neve que culminaria nas paralisações de 1979 e 1980

 

 

Fonte: RBA
Por Carlos Alberto Mattos
Foto: Nair Benedito


O clássico documentário Braços Cruzados, Máquinas Paradas, de Roberto Gervitz e Sergio Toledo foi realizado em 1978, no início do grande movimento operário que levou ao novo sindicalismo brasileiro e à fundação do PT.


Toledo e Gervitz documentaram, naqueles meses de 1978, o período em que o medo começou a desaparecer nas fábricas. As “greves espontâneas” (deflagradas pelas comissões de fábrica, sem piquetes e sem o comando da direção sindical) deixavam de ser clandestinas e formavam uma bola de neve que culminaria nas paralisações de 1979 e 1980. A primeira greve de São Bernardo, em maio de 1978, já repercutia na disposição de luta dos metalúrgicos da capital. Era o princípio de uma grande mudança de qualidade no movimento operário brasileiro.

O documentário saiu em DVD pela Videofilmes e é peça fundamental quando se fala de cinema e trabalho no Brasil (tema da mostra da TVT). Quarenta e três anos depois, Roberto Gervitz reflete neste texto sobre o tempo decorrido e o papel dos protagonistas do seu filme:

 

Quando as máquinas paravam

por Roberto Gervitz

 

roberto-gervitz

Esse filme foi rodado em 1978, quando “braços cruzados” se referia a braços de verdade, não virtuais, que se cruzavam e, com esse gesto, paravam o movimento das máquinas. Máquinas que hoje não são mais máquinas, mas sim gigantescos robots informatizados que precisam apenas de um técnico para colocá-los em movimento.

O proletariado que vemos no filme não existe mais. Hoje, os indivíduos desgarrados são “empreendedores (de si mesmos)” ou “colaboradores”, progressivamente destituídos dos direitos sociais conquistados ao longo do século passado (no Brasil). A tecnologia e a selvageria do capitalismo ultraliberal acabou por derrotá-lo (ao proletariado).

Mas em 1978 o Brasil encarava uma ditadura, e os operários que se organizavam em comissões de fábrica clandestinamente durante toda a década (sempre muito mais perseguidos, torturados e mortos do que as classes médias) resolveram enfrentar o capital e o regime militar. Naquele momento, operários mais jovens que nunca tinham feito uma greve – a última havia sido em 1968 – tomaram coragem, se juntaram aos mais experientes e se colocaram em uma luta sindical que tinha clara dimensão política. Ao mesmo tempo, buscavam retomar o sindicato que estava nas mãos de um pelego (interventor desde 1964).

Foram heroicos em seu conjunto, os grandes protagonistas da retomada da democracia que chegaria logo mais. Abriram as portas para a possibilidade de um novo país, nessa roda incansável de construir esperanças.

Acompanhe entrevista com Roberto Gervitz